O chamado "construir um ecossistema L2" já foi refutado.

Autor: Godot; Fonte: @GodotSancho

Recentemente, tenho visto muitas discussões sobre a Monad $MON e o fosso competitivo das blockchains públicas. Como colaborador de L2, sinto honestamente que a chamada “construção de ecossistema” já foi desmentida.

Se construíste uma blockchain pública ou uma L2 do zero, com total sinceridade e queres realmente desenvolver bons projectos, a primeira coisa a considerar é de onde vêm os utilizadores e os fundos on-chain.

Quando andas por aí à procura de colaboração, percebes que ninguém te liga, e até pagares a KOLs para promoção muitas vezes é recusado.

Nessa altura percebes que a necessidade mais básica das pessoas é terem a certeza de que não vais fugir com o dinheiro, e não tanto o desempenho ou a tecnologia da tua blockchain. Precisas de um forte financiamento de VC para dar credibilidade à marca.

O problema é: o que procuram os VCs? Tens de ter experiência em universidades de topo e grandes empresas, de preferência também com formação em criptografia, ou ter um sócio com esse background.

Vamos supor que tens tudo isso, encontraste um sócio com experiência em criptografia e conseguiste financiamento. Então, uma pequena parte das pessoas vai seguir as notícias de financiamento e tentar fazer farming na tua blockchain, e os KOLs vêm procurar-te para oportunidades de colaboração.

Depois enfrentas outro problema: como é que os utilizadores transferem dinheiro para a tua blockchain?

Se for uma blockchain pública, sem token emitido, só podes contar com faucet de testnet.

Se for uma L2, tens de procurar colaboração com bridges. A maioria das bridges faz transferências pool-to-pool, por isso o tipo de ativos que chegam à tua blockchain é muito limitado, ficando restrito ao USDT, USDC e ETH e respetivos LSTs.

Claro que o volume de ativos nunca será muito grande, porque as pessoas continuam receosas de que possas fugir.

E o problema mais crítico é que, se não tens USDT e USDC nativos na blockchain, esses tokens na tua chain são na verdade derivados bloqueados na bridge; se acontecer algum problema com a bridge, não consegues pagar aos utilizadores.

Ir falar com a Tether ou a Circle para colaboração? As taxas base começam nos milhões, portanto esquece.

Assim, a liquidez DeFi na tua chain fica limitada aos pares USDT-USDC e ETH-wstETH, o que é insignificante.

Os ativos que chegam via bridge são manifestamente insuficientes, e o centro de liquidez são as exchanges. Se uma exchange permitir depósitos e levantamentos diretamente na tua blockchain, seria uma grande ajuda.

Depois descobres que a maioria das exchanges cobra taxas para listar tokens, e a maior delas não cobra, mas tens de ser valioso para eles. Parabéns, já tens KPI.

E quanto ao TVL? Só resta ir procurar instituições, BD whales e grandes investidores, prometendo retornos. Quando lançares o token, usas o token para compensar o APY do TVL que trouxeram.

Atividade on-chain? Os grandes projetos DeFi consolidados não te ligam, a não ser que prometas grande liquidez, ou seja, deploy de pelo menos 10 milhões ou até 100 milhões de dólares de TVL no projeto, só assim consideram deployar na tua chain. Caso contrário, sem profundidade, ninguém usa, mesmo que deployem, não serve de nada.

GameFi, NFT? Praticamente mortos.

Os projetos que vêm ter contigo, basicamente vêm atrás de grants; copiam qualquer projeto existente, deployam na tua chain, esperam que lances token e pedem grant, vendem os tokens e depois multi-chain deploy, procurando a próxima blockchain ou L2.

Mesmo que estejam sinceramente interessados em deployar na tua chain, não vão ficar limitados só à tua chain. Também querem capitalização de mercado, aumentar a base de utilizadores e o mercado, e multi-chain deploy é a melhor estratégia.

MEME, para muitos, parece uma boa solução; muita gente acha que pumpando uns MEMEs resolve-se, mas na prática não podes lançar MEMEs tu mesmo, por causa da regulação em muitos países.

Além disso, não podes contratar uma equipa de market making temporária, também tem custos. Procurar uma equipa third-party de emissão de MEME? Inicialmente alguns tokens podem aguentar, desde que as whales não façam cash out.

Assim que o crescimento de utilizadores abranda e há falta de buy-side, as whales vendem, o preço dos MEMEs cai, e cada vez mais vemos quedas acentuadas.

A entrada de traders de alta frequência só piora as coisas, aumentam o gas, snipam ordens antes que os MM consigam cancelar. Os MM têm de alargar o spread, os utilizadores enfrentam cada vez mais slippage. A volatilidade só aumenta.

Gradualmente, o tempo de holding dos utilizadores fica cada vez menor, fazem lucro e saem. Os MM conseguem manter o preço por cada vez menos tempo.

No fim, é uma corrida para ver quem foge primeiro. No final, ninguém precisa fugir.

Se por sorte atingiste o KPI e finalmente vais listar o token, há uma questão para resolver: vais garantir os interesses dos VC? E das whales e grandes investidores que trouxeram TVL? E os grants dos projetos do ecossistema? O capital dos MM, os airdrops/listagem nas exchanges, os rewards de staking, os airdrops para utilizadores, a equipa? De quem vais proteger o interesse e de quem vais sacrificar?

Por fim, consegues listar o token, mas as exchanges só permitem depósitos e levantamentos do teu token nativo, no máximo também ETH.

A Tether e a Circle continuam a cobrar milhões de dólares; não há U nativo na chain, as exchanges não permitem depósitos e levantamentos de U baseados na tua chain, as whales DeFi não confiam na segurança das bridges, não vão transferir grandes quantias via bridge.

Os utilizadores que participam nas atividades da tua chain têm de depositar o token nativo, depois vender por ETH ou U, o que já é uma barreira em si.

Ah, e sem U nativo, nem penses em trazer projetos RWA. Nem sequer podes usar Chainlink como oráculo, porque também é caríssimo.

No fim, percebes que lançar uma chain generalista para construir um ecossistema é uma falsa premissa.

Na verdade, é tudo um grande “O Rei Vai Nu”; a procura não se baseia nos fundamentos, mas sim em teorias de conspiração, a ideia de que há alguém por trás a manipular ou apoiar.

Percebes que os fundos na tua chain acabam por regressar sempre ao ETH e SOL, talvez também Base; o efeito de rede destas blockchains já é bastante evidente.

O suporte para depósitos e levantamentos nas exchanges, a liquidez dos ativos on-chain, o capital e slippage em DEX, a escala e efeito de rede dos DeFi, a variedade e composabilidade dos protocolos DeFi, diferentes tipos de trading como spot, futuros e opções, possibilidade de hedge, construção de produtos de dívida, segurança de liquidação dos protocolos de lending, hábitos de trading dos utilizadores, impressões e dependências já formadas, tudo isto são fossos competitivos das blockchains públicas bem-sucedidas.

Portanto, voltamos àquela questão: por que motivo os utilizadores deveriam usar a tua chain e por que razão os protocolos do ecossistema deveriam deployar na tua chain? O importante não é a tecnologia em si, mas a unicidade.

Essa unicidade tem de ajudar em dois grandes cenários: trading e rendimento. E tem de ser uma vantagem a nível de consenso, tal como a ordem de prioridade de cancelamento da Hyperliquid que beneficia os MM, ou a ACE (Application Control Execution) da Solana.

Na verdade, já disse tudo o que queria.

Por fim, queria dizer que os projetos incubados pela Manta não são obrigados a deployar na Manta chain, podem escolher livremente a chain que acharem melhor, por exemplo o superfortune está na BNB Chain, o Junk.Fun está na Solana, etc. Mas parte das receitas tem de ser usada para buyback de MANTA.

É isso.