A maior empresa de reservas de Bitcoin cotada em bolsa do mundo, a Strategy (anteriormente MicroStrategy), está a enfrentar uma dura prova de mercado. Com a queda do preço do Bitcoin, o colapso das ações da empresa MSTR em 30% num mês e o fundador Michael Saylor a admitir pela primeira vez a possibilidade de vender Bitcoin, uma série de fatores negativos levou o mercado a questionar seriamente se este gigante, que detém 650.000 Bitcoins (3,1% do total, avaliados em cerca de 60 mil milhões de dólares), poderá colapsar. O debate sobre se a empresa é “too big to fail” desenrola-se intensamente dentro e fora do sector, e esta discussão vai além do destino de uma empresa: toca o tema central dos limites de segurança do Bitcoin enquanto ativo de reserva empresarial.
Preocupações do mercado disparam: da “nunca vender” à potencial liquidação
Uma série de notícias negativas recentes fez disparar as preocupações do mercado sobre a Strategy. O primeiro sinal foi a performance das suas ações: nos últimos 30 dias, as ações MSTR caíram 30% para 185,88 dólares, muito acima da queda de cerca de 13% do Bitcoin no mesmo período. Mais preocupante para os investidores é o facto de Michael Saylor, fundador conhecido pelo lema “nunca vender Bitcoin”, ter admitido publicamente pela primeira vez que, caso o principal indicador financeiro da empresa – o valor líquido ajustado por ação (mNAV) – caia abaixo de 1, poderão considerar vender Bitcoin.
Esta declaração é altamente significativa. A Strategy é vista como o exemplo de uma empresa “Bitcoin-first” precisamente devido à sua narrativa central de manter a longo prazo de forma inabalável. Qualquer intenção de venda, por mais exigentes que sejam as condições, abala o fundamento desta narrativa. De acordo com o site oficial da Strategy, o seu mNAV está atualmente em 1,14, não muito longe do limite de disparo. Além disso, há rumores de que a empresa pode ser removida de índices bolsistas importantes, o que aumenta ainda mais a pressão descendente sobre as ações e as preocupações de liquidez.
Esta transição subtil de “holding por convicção” para “possível liquidação” desencadeou uma reação em cadeia. Os investidores começaram a reavaliar os enormes riscos de um modelo de negócio que vincula profundamente o destino da empresa a um único ativo volátil. Em bull markets de Bitcoin, o efeito de alavancagem amplifica os ganhos; mas em mercados bear, amplifica também as perdas e pressões financeiras. A situação atual da Strategy tornou-se um verdadeiro “stress test” à robustez deste modelo de negócio.
Contudo, o presidente executivo da Strategy, Michael Saylor, continua a reforçar a sua convicção. No evento Binance Blockchain Week, esta terça-feira, Saylor afirmou que o Bitcoin é a pedra basilar dos mercados económicos, apontando para o facto de gigantes de Wall Street como a BlackRock e a Fidelity gerirem ETFs de Bitcoin nos EUA de valor próximo dos 150 mil milhões de dólares. A Strategy detém Bitcoin no valor de 60 mil milhões de dólares, sendo uma das empresas do índice S&P 500 com maior exposição. Ao mesmo tempo, o presidente Trump assinou no início de 2025 uma ordem executiva para criar reservas estratégicas de Bitcoin e nomeou reguladores favoráveis às criptomoedas. Saylor exortou todos a abraçarem a volatilidade do Bitcoin, vendo-o como um capital digital com potencial para revolucionar as finanças através da eficiência e transparência.
“Too big to fail” faz sentido no mundo cripto?
Perante a crise, emerge uma questão-chave: será a Strategy “too big to fail”? Este conceito, popularizado na crise financeira de 2008, refere-se a instituições financeiras tão grandes e interligadas ao sistema que o seu colapso provocaria riscos sistémicos, levando o Estado a intervir. Vários observadores do sector discordam desta tese.
O especialista em direito societário Eli Cohen, Chief Legal Officer da Centrifuge, afirma categoricamente que empresas cotadas podem falir por completo. Cita exemplos como Enron, Lehman Brothers, Silicon Valley Bank, Silvergate e Signature Bank, cujos acionistas perderam tudo após a falência. Sublinha que a Strategy não tem a mesma importância sistémica das grandes instituições financeiras, pelo que, em caso de colapso, “ninguém irá resgatá-los”, e os acionistas poderão perder a quase totalidade dos seus investimentos.
Esta visão é partilhada por outros analistas. Trantor, responsável anónimo da DEX EtherX baseada em Linea, também considera improvável um resgate ao estilo de 2008. Contudo, nas redes sociais, há quem defenda que, sendo a 433.ª maior empresa mundial em valor de mercado (segundo CompaniesMarketCap), o colapso da Strategy teria consequências imprevisíveis e sempre haveria forças a intervir para evitar o desastre. Mitchell “Nom” Rudy, membro do conselho da Bonk, Inc., empresa financeira da BONK, considera que, apesar de diversos ataques, o tamanho e a inércia da Strategy tornam pouco provável o seu colapso.
( Perspetiva dos principais riscos da Strategy
Posição em Bitcoin: 650.000 BTC, cerca de 3,1% da oferta total, avaliados em aproximadamente 60 mil milhões de dólares.
Performance das ações: queda de 30% no último mês; desde o máximo histórico em novembro de 2024, já caiu 65%.
Indicador de risco principal: valor líquido ajustado por ação (mNAV) de 1,14; se cair abaixo de 1, a empresa poderá vender Bitcoin.
Reservas de caixa: 1,44 mil milhões de dólares em caixa, destinados ao pagamento de dividendos, para evitar vendas forçadas de Bitcoin.
Aviso histórico: a Enron, outrora a sétima maior empresa dos EUA, faliu após as ações caírem de 90 para 0,26 dólares.
O verdadeiro risco: crise de liquidez e pressão dos acionistas
Deixando de lado o debate macro sobre eventuais resgates, o risco mais premente para a Strategy é de ordem financeira: uma potencial “crise de liquidez”. Sal Ternullo, ex-responsável conjunto de criptoativos da KPMG que auditou a MicroStrategy em 2020, identifica o cerne do problema: quando as ações são negociadas com um desconto em relação ao seu valor líquido e a empresa não dispõe de caixa para recomprar ações e sustentar o preço, os acionistas acabam por pressionar a gestão a vender ativos do balanço – ou seja, Bitcoin – para financiar essas recompras.
É este o dilema atual da Strategy. O colapso do preço das ações já reflete um grande desconto sobre o valor dos seus ativos. Para quebrar este ciclo vicioso, a Strategy criou recentemente uma reserva de caixa de 1,44 mil milhões de dólares, para pagar dividendos em caso de necessidade e evitar a venda de Bitcoin. No entanto, não está claro se esta medida será suficiente para acalmar os acionistas e estabilizar as ações.
Katherine Dowling, Conselheira Geral e COO da gestora Bitwise, salienta que a venda de Bitcoin poderia ser um “útil complemento estratégico”, mas a postura pública de Saylor de “nunca vender” tornou essa opção altamente controversa. O conflito entre a narrativa e a necessidade operacional tornou-se a espada de Dâmocles sobre a Strategy, reduzindo drasticamente a sua flexibilidade financeira.
Se o gigante vender: impacto “nuclear” no mercado de Bitcoin
Discutir o risco da Strategy implica considerar o seu potencial impacto no próprio mercado de Bitcoin. Com 3,1% da oferta total, qualquer venda da Strategy poderia abalar o mercado. Trantor alerta que uma decisão de venda poderia desencadear reações “muito negativas”, com traders a tentarem antecipar-se através de vendas e short selling.
Embora seja improvável que uma venda desta escala provoque o “colapso total” do preço do Bitcoin, o impacto psicológico no contexto atual seria devastador. Dowling acredita que uma venda pública por parte da Strategy poderia gerar pânico generalizado. O mercado cripto anda a procurar o próximo caso à la “Terra Luna ou FTX”, e uma venda forçada pela Strategy alimentaria fortemente este viés negativo.
O choque teria várias dimensões: pressão de venda direta; colapso da confiança na maior empresa detentora de Bitcoin; e uma dúvida fundamental sobre o modelo de negócio de todas as empresas cotadas que têm Bitcoin como reserva. O destino da Strategy está agora intimamente ligado ao sentimento de curto prazo do mercado de Bitcoin, e cada decisão financeira será escrutinada ao detalhe.
Origem do “too big to fail” e comparação com empresas cotadas detentoras de Bitcoin
Origem e controvérsia do conceito “too big to fail”
“Too big to fail” não é uma norma legal, mas um termo económico e financeiro popularizado após a crise de 2008. Nessa altura, para evitar que o colapso da Lehman Brothers destruísse o sistema financeiro global, o governo dos EUA resgatou gigantes como a AIG com somas colossais. Esta prática gerou enorme controvérsia ética, pois incentiva as grandes instituições a correr mais riscos, acreditando que o Estado as irá salvar na crise. Desde então, reguladores globais tentaram mitigar este problema com instrumentos como a Lei Dodd-Frank, mas o conceito mantém-se influente. No sector cripto, antes do colapso, a FTX era vista por alguns como “too big to fail”, mas a sua queda rápida destruiu essa ilusão.
Principais empresas cotadas com reservas de Bitcoin
Strategy: cerca de 650.000 BTC (3,1% da oferta), custo de aquisição de aproximadamente 5,9 mil milhões de dólares; maior detentor público do mundo.
Tesla: cerca de 10.000 BTC (estimativa histórica), já realizou lucros com vendas parciais, postura mais flexível.
Block (ex-Square): cerca de 8.000 BTC, investimento de longo prazo, sem planos de venda conhecidos.
Coinbase: detém grandes volumes de Bitcoin em custódia para clientes, mas tem reservas próprias reduzidas.
A concentração das reservas da Strategy e o compromisso público de “nunca vender” expõem a empresa a riscos e sensibilidade ao mercado muito superiores aos de outros players.
A crise da Strategy funciona como um prisma, revelando as complexidades que surgem quando o Bitcoin é integrado na gestão financeira empresarial tradicional. Quando a “fé” colide com a “disciplina financeira” e a “narrativa de longo prazo” é posta à prova pela pressão de curto prazo sobre o preço das ações, não há respostas fáceis. Este episódio pode não terminar num colapso estrondoso, mas serve de aviso a todas as empresas que ponderam incluir Bitcoin no balanço: a volatilidade cripto é uma faca de dois gumes. Para beneficiar das subidas, é essencial preparar planos robustos de liquidez e comunicação para os piores cenários. O Bitcoin pode ser um grande ativo, mas para as empresas, a sobrevivência exige sempre gestão de risco, não testes de fé. O caso da Strategy está a tornar-se uma lição obrigatória sobre escala, risco e responsabilidade na transição das criptomoedas da periferia para a aceitação mainstream.
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Bitcoin megawhale Strategy em perigo? Análise aprofundada do mito e da realidade do “grande demais para falir”
A maior empresa de reservas de Bitcoin cotada em bolsa do mundo, a Strategy (anteriormente MicroStrategy), está a enfrentar uma dura prova de mercado. Com a queda do preço do Bitcoin, o colapso das ações da empresa MSTR em 30% num mês e o fundador Michael Saylor a admitir pela primeira vez a possibilidade de vender Bitcoin, uma série de fatores negativos levou o mercado a questionar seriamente se este gigante, que detém 650.000 Bitcoins (3,1% do total, avaliados em cerca de 60 mil milhões de dólares), poderá colapsar. O debate sobre se a empresa é “too big to fail” desenrola-se intensamente dentro e fora do sector, e esta discussão vai além do destino de uma empresa: toca o tema central dos limites de segurança do Bitcoin enquanto ativo de reserva empresarial.
Preocupações do mercado disparam: da “nunca vender” à potencial liquidação
Uma série de notícias negativas recentes fez disparar as preocupações do mercado sobre a Strategy. O primeiro sinal foi a performance das suas ações: nos últimos 30 dias, as ações MSTR caíram 30% para 185,88 dólares, muito acima da queda de cerca de 13% do Bitcoin no mesmo período. Mais preocupante para os investidores é o facto de Michael Saylor, fundador conhecido pelo lema “nunca vender Bitcoin”, ter admitido publicamente pela primeira vez que, caso o principal indicador financeiro da empresa – o valor líquido ajustado por ação (mNAV) – caia abaixo de 1, poderão considerar vender Bitcoin.
Esta declaração é altamente significativa. A Strategy é vista como o exemplo de uma empresa “Bitcoin-first” precisamente devido à sua narrativa central de manter a longo prazo de forma inabalável. Qualquer intenção de venda, por mais exigentes que sejam as condições, abala o fundamento desta narrativa. De acordo com o site oficial da Strategy, o seu mNAV está atualmente em 1,14, não muito longe do limite de disparo. Além disso, há rumores de que a empresa pode ser removida de índices bolsistas importantes, o que aumenta ainda mais a pressão descendente sobre as ações e as preocupações de liquidez.
Esta transição subtil de “holding por convicção” para “possível liquidação” desencadeou uma reação em cadeia. Os investidores começaram a reavaliar os enormes riscos de um modelo de negócio que vincula profundamente o destino da empresa a um único ativo volátil. Em bull markets de Bitcoin, o efeito de alavancagem amplifica os ganhos; mas em mercados bear, amplifica também as perdas e pressões financeiras. A situação atual da Strategy tornou-se um verdadeiro “stress test” à robustez deste modelo de negócio.
Contudo, o presidente executivo da Strategy, Michael Saylor, continua a reforçar a sua convicção. No evento Binance Blockchain Week, esta terça-feira, Saylor afirmou que o Bitcoin é a pedra basilar dos mercados económicos, apontando para o facto de gigantes de Wall Street como a BlackRock e a Fidelity gerirem ETFs de Bitcoin nos EUA de valor próximo dos 150 mil milhões de dólares. A Strategy detém Bitcoin no valor de 60 mil milhões de dólares, sendo uma das empresas do índice S&P 500 com maior exposição. Ao mesmo tempo, o presidente Trump assinou no início de 2025 uma ordem executiva para criar reservas estratégicas de Bitcoin e nomeou reguladores favoráveis às criptomoedas. Saylor exortou todos a abraçarem a volatilidade do Bitcoin, vendo-o como um capital digital com potencial para revolucionar as finanças através da eficiência e transparência.
“Too big to fail” faz sentido no mundo cripto?
Perante a crise, emerge uma questão-chave: será a Strategy “too big to fail”? Este conceito, popularizado na crise financeira de 2008, refere-se a instituições financeiras tão grandes e interligadas ao sistema que o seu colapso provocaria riscos sistémicos, levando o Estado a intervir. Vários observadores do sector discordam desta tese.
O especialista em direito societário Eli Cohen, Chief Legal Officer da Centrifuge, afirma categoricamente que empresas cotadas podem falir por completo. Cita exemplos como Enron, Lehman Brothers, Silicon Valley Bank, Silvergate e Signature Bank, cujos acionistas perderam tudo após a falência. Sublinha que a Strategy não tem a mesma importância sistémica das grandes instituições financeiras, pelo que, em caso de colapso, “ninguém irá resgatá-los”, e os acionistas poderão perder a quase totalidade dos seus investimentos.
Esta visão é partilhada por outros analistas. Trantor, responsável anónimo da DEX EtherX baseada em Linea, também considera improvável um resgate ao estilo de 2008. Contudo, nas redes sociais, há quem defenda que, sendo a 433.ª maior empresa mundial em valor de mercado (segundo CompaniesMarketCap), o colapso da Strategy teria consequências imprevisíveis e sempre haveria forças a intervir para evitar o desastre. Mitchell “Nom” Rudy, membro do conselho da Bonk, Inc., empresa financeira da BONK, considera que, apesar de diversos ataques, o tamanho e a inércia da Strategy tornam pouco provável o seu colapso.
( Perspetiva dos principais riscos da Strategy
Posição em Bitcoin: 650.000 BTC, cerca de 3,1% da oferta total, avaliados em aproximadamente 60 mil milhões de dólares.
Performance das ações: queda de 30% no último mês; desde o máximo histórico em novembro de 2024, já caiu 65%.
Indicador de risco principal: valor líquido ajustado por ação (mNAV) de 1,14; se cair abaixo de 1, a empresa poderá vender Bitcoin.
Reservas de caixa: 1,44 mil milhões de dólares em caixa, destinados ao pagamento de dividendos, para evitar vendas forçadas de Bitcoin.
Aviso histórico: a Enron, outrora a sétima maior empresa dos EUA, faliu após as ações caírem de 90 para 0,26 dólares.
O verdadeiro risco: crise de liquidez e pressão dos acionistas
Deixando de lado o debate macro sobre eventuais resgates, o risco mais premente para a Strategy é de ordem financeira: uma potencial “crise de liquidez”. Sal Ternullo, ex-responsável conjunto de criptoativos da KPMG que auditou a MicroStrategy em 2020, identifica o cerne do problema: quando as ações são negociadas com um desconto em relação ao seu valor líquido e a empresa não dispõe de caixa para recomprar ações e sustentar o preço, os acionistas acabam por pressionar a gestão a vender ativos do balanço – ou seja, Bitcoin – para financiar essas recompras.
É este o dilema atual da Strategy. O colapso do preço das ações já reflete um grande desconto sobre o valor dos seus ativos. Para quebrar este ciclo vicioso, a Strategy criou recentemente uma reserva de caixa de 1,44 mil milhões de dólares, para pagar dividendos em caso de necessidade e evitar a venda de Bitcoin. No entanto, não está claro se esta medida será suficiente para acalmar os acionistas e estabilizar as ações.
Katherine Dowling, Conselheira Geral e COO da gestora Bitwise, salienta que a venda de Bitcoin poderia ser um “útil complemento estratégico”, mas a postura pública de Saylor de “nunca vender” tornou essa opção altamente controversa. O conflito entre a narrativa e a necessidade operacional tornou-se a espada de Dâmocles sobre a Strategy, reduzindo drasticamente a sua flexibilidade financeira.
Se o gigante vender: impacto “nuclear” no mercado de Bitcoin
Discutir o risco da Strategy implica considerar o seu potencial impacto no próprio mercado de Bitcoin. Com 3,1% da oferta total, qualquer venda da Strategy poderia abalar o mercado. Trantor alerta que uma decisão de venda poderia desencadear reações “muito negativas”, com traders a tentarem antecipar-se através de vendas e short selling.
Embora seja improvável que uma venda desta escala provoque o “colapso total” do preço do Bitcoin, o impacto psicológico no contexto atual seria devastador. Dowling acredita que uma venda pública por parte da Strategy poderia gerar pânico generalizado. O mercado cripto anda a procurar o próximo caso à la “Terra Luna ou FTX”, e uma venda forçada pela Strategy alimentaria fortemente este viés negativo.
O choque teria várias dimensões: pressão de venda direta; colapso da confiança na maior empresa detentora de Bitcoin; e uma dúvida fundamental sobre o modelo de negócio de todas as empresas cotadas que têm Bitcoin como reserva. O destino da Strategy está agora intimamente ligado ao sentimento de curto prazo do mercado de Bitcoin, e cada decisão financeira será escrutinada ao detalhe.
Origem do “too big to fail” e comparação com empresas cotadas detentoras de Bitcoin
Origem e controvérsia do conceito “too big to fail”
“Too big to fail” não é uma norma legal, mas um termo económico e financeiro popularizado após a crise de 2008. Nessa altura, para evitar que o colapso da Lehman Brothers destruísse o sistema financeiro global, o governo dos EUA resgatou gigantes como a AIG com somas colossais. Esta prática gerou enorme controvérsia ética, pois incentiva as grandes instituições a correr mais riscos, acreditando que o Estado as irá salvar na crise. Desde então, reguladores globais tentaram mitigar este problema com instrumentos como a Lei Dodd-Frank, mas o conceito mantém-se influente. No sector cripto, antes do colapso, a FTX era vista por alguns como “too big to fail”, mas a sua queda rápida destruiu essa ilusão.
Principais empresas cotadas com reservas de Bitcoin
A concentração das reservas da Strategy e o compromisso público de “nunca vender” expõem a empresa a riscos e sensibilidade ao mercado muito superiores aos de outros players.
A crise da Strategy funciona como um prisma, revelando as complexidades que surgem quando o Bitcoin é integrado na gestão financeira empresarial tradicional. Quando a “fé” colide com a “disciplina financeira” e a “narrativa de longo prazo” é posta à prova pela pressão de curto prazo sobre o preço das ações, não há respostas fáceis. Este episódio pode não terminar num colapso estrondoso, mas serve de aviso a todas as empresas que ponderam incluir Bitcoin no balanço: a volatilidade cripto é uma faca de dois gumes. Para beneficiar das subidas, é essencial preparar planos robustos de liquidez e comunicação para os piores cenários. O Bitcoin pode ser um grande ativo, mas para as empresas, a sobrevivência exige sempre gestão de risco, não testes de fé. O caso da Strategy está a tornar-se uma lição obrigatória sobre escala, risco e responsabilidade na transição das criptomoedas da periferia para a aceitação mainstream.