Em dezembro de 2025, a Bittensor passará por seu primeiro halving, e as expectativas são divididas. Enquanto alguns se mostram confiantes na capacidade de adaptação da rede, outros demonstram preocupação e consideram possíveis mudanças de protocolo. Esse cenário não nos surpreende.
Ao revisitarmos o contexto do primeiro halving do Bitcoin, notamos uma semelhança notável: pessimistas previam o colapso do Bitcoin, enquanto os otimistas apostavam que o sistema se ajustaria, impulsionado pelos incentivos existentes.
No fim das contas, os pessimistas se enganaram. O Bitcoin continua operando, um exemplo vivo de que políticas monetárias programadas funcionam. Acreditamos que o halving da Bittensor terá desdobramento semelhante.
A distinção fundamental entre Bitcoin e Bittensor é que a Bittensor opera com dois tokens — TAO e Alpha (tokens das sub-redes) — cada um obedecendo agendas de halving diferentes, o que traz maior complexidade ao ecossistema.
Vamos detalhar, mas antecipamos nossa visão de longo prazo: o halving é positivo para o TAO e para os tokens das sub-redes, ainda que, como ocorre no Bitcoin, o timing do impacto seja difícil de prever.
Para quem prefere objetividade, segue a síntese.
Para o TAO, as emissões serão reduzidas pela metade, resultando em menor oferta circulante e, consequentemente, menos TAO disponível para venda. Isso é claramente positivo.
Veja por este ângulo: no Bitcoin, mineradores são remunerados em BTC, e o halving diminui tanto o ganho quanto a quantidade que pode ser vendida. Na Bittensor, sub-redes recebem TAO, e o halving reduz o fluxo de TAO para essas sub-redes, limitando o volume disponível para mineradores, validadores e proprietários negociarem.
No caso dos tokens das sub-redes, o cenário é mais sofisticado. Cada sub-rede funciona, essencialmente, como um pool de liquidez. O halving do TAO vai diminuir pela metade as injeções de liquidez na rede. Com liquidez mais restrita, a volatilidade aumenta — ou seja, as oscilações de preço se intensificam nas duas direções.
Por exemplo, se os mercados das sub-redes (Soma dos Preços) subiram 1% na semana anterior com a liquidez atual, esse mesmo fluxo poderia provocar o dobro de variação após o halving. Assim, o direcionamento dos fluxos líquidos passa a ser o fator determinante para os preços dos tokens das sub-redes.
Nosso diagnóstico:
Portanto, acreditamos que os fluxos das sub-redes estão prestes a se tornar positivos. Num cenário pós-halving, com volatilidade ampliada e liquidez reduzida, isso gera um ambiente favorável para os tokens das sub-redes.
O protocolo Bittensor distribui TAO para as sub-redes, injetando o token em cada pool de liquidez de acordo com o preço do token da sub-rede (Alpha). Esse mecanismo foi implantado com o Dynamic TAO Upgrade em fevereiro de 2025, tornando a alocação das emissões da Bittensor dependente do mercado.
As injeções de TAO nos pools visam estabilizar os preços das sub-redes. Quando a rede injeta TAO de um lado, há a injeção simultânea de Alpha do outro, mantendo o equilíbrio. Após o halving, as injeções de TAO serão reduzidas em 50%, e as de Alpha acompanharão automaticamente, para evitar impacto no preço.
Por exemplo, se uma sub-rede hoje detém 10% das emissões e negocia a 0,1 TAO (considerando Soma dos Preços igual a 1), ela recebe 0,1 TAO e 1 Alpha por bloco. Após o halving, essa mesma sub-rede passará a receber 0,05 TAO e 0,5 Alpha por bloco.
O resultado direto é que a liquidez de TAO e Alpha nos pools das sub-redes crescerá mais lentamente. Menor liquidez implica maior volatilidade, tanto para cima quanto para baixo. Na prática, tokens das sub-redes passam a operar com beta elevado.
Esse quadro afeta principalmente os mineradores. Com custos dolarizados, eles vendem Alpha por TAO (e depois TAO por USD) para cobrir despesas. Com a liquidez menor pós-halving, cada venda de Alpha entrega menos TAO, devido à menor profundidade e maior slippage. Em consequência, menos TAO será extraído dos pools das sub-redes e vendido no mercado.
Os proprietários das sub-redes podem mitigar esse desequilíbrio reduzindo as emissões para mineradores em aproximadamente 50%, realizando, na prática, um “halving do Alpha”. Isso não restaura integralmente as condições anteriores ao halving, mas aproxima o sistema do equilíbrio. Ao limitar a entrada de Alpha em circulação, as sub-redes desaceleram a venda de Alpha em pools de TAO mais enxutos, evitando drenagem acelerada de liquidez. Ajustar as emissões de Alpha junto ao halving do TAO contribui para estabilizar os preços das sub-redes e reduzir a volatilidade na rede.
Alternativamente, sub-redes que conseguirem dobrar a demanda estrutural (por meio de recompras, por exemplo) podem compensar o impacto do halving e dispensar cortes nas emissões dos mineradores.
O efeito imediato do halving será a redução dos ganhos de TAO para as sub-redes. Essa pressão tende a retirar mineradores menos eficientes do sistema, repetindo o padrão observado após os halvings do Bitcoin.
Sub-redes menos robustas também enfrentarão dificuldades. Com metade do TAO disponível, o crescimento da liquidez desacelera, as margens dos mineradores estreitam e a manutenção da participação se torna mais difícil. Isso intensifica a distribuição de Pareto, concentrando emissões nas sub-redes mais sólidas. Ou seja, ocorre uma realocação do TAO das sub-redes mais frágeis para as mais fortes.
Simultaneamente, será mais difícil para novas sub-redes criarem liquidez. Elas disputam por menos emissões de TAO, o que reduz o valor total direcionado ao sistema dTAO, além de começarem do zero. Como as injeções de Alpha nos pools também são cortadas pela metade, o suprimento circulante das sub-redes recém-criadas avança mais lentamente do que o das veteranas. O suprimento baixo mantém o root prop elevado por mais tempo. Isso prolonga a pressão de venda sistemática nas novas sub-redes em comparação às anteriores.
Contudo, esse é apenas um lado da equação. Caso o TAO se valorize devido à menor pressão de venda, os proprietários das sub-redes talvez não precisem reduzir tanto as emissões dos mineradores — ou nem mesmo reduzi-las. As margens dos mineradores podem retornar aos níveis anteriores ao halving e o desafio de criação de liquidez nas novas sub-redes diminui à medida que o valor em dólar das emissões de TAO sobe. Como ocorre com o Bitcoin, esse efeito tende a ser gradual, acompanhando o ajuste da oferta à demanda.
Choques e volatilidade vão ocorrer, e a redução da oferta levará tempo para impactar o sistema. Porém, diante do sucesso da política monetária programática no Bitcoin, não há motivos para duvidar do modelo. Com uma comunidade engajada, acreditamos que a Bittensor seguirá pelo mesmo caminho.
Nassim Taleb argumenta que baixa volatilidade gera fragilidade, pois oculta tensões até o ponto de ruptura do sistema. Em contrapartida, sistemas expostos a choques regulares se fortalecem. O halving da Bittensor é um desses choques: um teste involuntário que tensiona e fortalece a rede. É o primeiro de muitos e, para que a rede prospere por décadas, é preciso passar por esse processo de fortalecimento.